De uma mãe que sabe exatamente do que você está passando, para outra, fique comigo, eu tenho uma história que pode alterar sua trajetória.
…
No final de 2020 minha família recebeu uma notícia que abalou nossa estrutura, meu marido foi diagnosticado com um câncer raro no olho.
Na noite do dia 29 de outubro eu estava na minha casa em Adelaide, Austrália, ele na sala de operação do Royal Adelaide Hospital. Meus dois filhos dormiam cada um em seu quarto no andar de cima.
Eu olhava insistentemente para o celular…
…a cada dois minutos minhas mãos se moviam sem nenhuma intenção consciente…
…segurava o celular…
Olhava e suspirava nervosamente.
Nada, nenhuma notícia.
Eu havia decidido ficar em casa porque somos imigrantes e não temos família na Austrália.
O seu pai vai ficar bem, vocês vão ficar bem, quando acordar tudo estará resolvido. Agora entre de baixo das cobertas e vamos rezar para que seu pai sare rapidinho.
Eu coloquei meus dois filhos na cama e desci.
Não se preocupe, disse o cirurgião, a operação é rápida e simples.
Ok, vou lavar a louça.
Pega a esponja, sente o sabão, escuta o barulho da água, acha algo para agradecer…
…Fones de ouvido nas orelhas, audio-book com ensinamentos espirituais.
Melhor ouvir Anita Moorjani, ela morreu e voltou, ela tem as palavras certas que eu preciso agora.
Entre meus mergulhos de entrega total ao presente momento e devaneios perturbadores recebo uma mensagem no WhatsApp.
A voz estava embargada numa sonolência artificial causada pela anestesia geral, a tristeza que suas palavras carregavam eram pesadas e desconcertantes.
Eles não colocaram a placa, o tumor era muito grande…
…ele me fala nessa curta mensagem de voz…
…vão ter que tirar meu olho, mas pelo menos estou vivo.
Meu coração parou por um instante com uma sensação de gelo correndo pelas minhas veias, minhas pernas vacilaram, a respiração quase não veio.
Aquele era o meu marido.
O super homem que conseguiu o impossível.
Aquele que carrega o mundo nas costas.
O super herói da minha pequena Eva.
O meu melhor amigo.
Vulnerável.
Desprotegido.
Abandonado sem ninguém que ele confie para abraçar nesse momento de terror.
Eu parei por um instante sentada na beirada da minha cama, pernas tremendo, pensamento confuso, mãos quentes gotejando de suor.
Ali a mágica começou a acontecer.
Inspiração pelo nariz longa, expiração exageradamente devagar pela boca.
1, 2, 3, 4, 5…
Ok, preciso ir para o hospital… pega o telefone liga para melhor amiga…
Ela estará aqui em 10 minutos.
Inspiração pelo nariz longa, expiração exageradamente devagar pela boca.
1, 2, 3, 4, 5…
Se troca, calça de Yoga que é tão confortável quanto um pijama…
…pega o saco de dormir…
Pensamento começa a voltar para o tom da voz dele na mensagem, medo escorre pelas mais profundas camadas da minha consciência, dramas e tragédias se formam no meu cérebro, análises e perdas são acessadas… lágrimas escorrem sem controle.
E num pequeno instante de presença…
Inspiração pelo nariz longa, expiração exageradamente devagar pela boca.
1, 2, 3, 4, 5…
Um pé depois do outro, tapete é cinza, macio,
Inspiração pelo nariz longa…
…expiração exageradamente devagar pela boca.
1, 2, 3, 4, 5…
Entra no carro, sente a direção, o corpo pesado no assento.
Inspira profundo…
Solta pela boca, ahhhhhh…
Mãos na borracha da direção…
…estou bem.